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Que texto bom, sobre um assunto difícil a beça.

Mudei para uma cidadezica maravilhosa de 5mil habitantes, se tanto. E são tantos os aprendizados, as mudanças de perspectivas.

Uma delas é em relação ao dinheiro.

Nossos vizinhos são moradores residentes (nós somos turistas residentes, os que vêm de sp). Criam galinha, plantam, comem o frango que criaram. E fazem muito, muito mais.

Cheguei aqui propondo de pagar por tudo, comprar tudo. Bem capitalistazinha, ela. Aos poucos, fui entendendo que não é assim. A moeda é outra....

Ofereço meu brócolis, minha vizinha me dá uns ovos. Ofereço uma poda, ganho uma galinha.

As vezes a fartura tá aqui, as vezes ali.

Sou professora de piano.

Aqui, minhas filhas vão na escola que eu não pago... Ofereço meu tempo pra ensinar outras crianças a aprenderem piano, música.

Aqui ninguém faz " só " uma coisa pro social. O cara que trabalha como.professor de zumba é ator, ajuda nas apresentações da escola, tem um grupo de percussão, tem uma pizzaria e é vereador da cidade. Sério, nenhum exagero. Antes ele também era estoquista do mercado.

O que você faz por dinheiro é só mais uma das suas atividades.

Tenho aprendido muito assim. Sem dizer que acho que se tivéssemos de fato um retorno ao campo, sair da cidade... revolução que chama???

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Monteiro Lobato? hehe

Fiz este mesmo caminho e me surpreendi até com a questão de que muitas vezes o dinheiro nem compra - o rapaz não aceita o serviço porque é longe, ou tá cansado, ou prefere arrumar as coisas na sua própria casa.

Estou com você, Beatriz. Para mim, o que é mais possível é de fato a gente se reestruturar em pequenos grupos, em que a troca de serviço já cumpre uma grande parte do que teria que vir como renda em dinheiro.

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Gonçalves! Haha. Mas mantiquerida!

Sim. Na verdade tem várias mudanças profundas de perspectiva, né? No quesito dinheiro, é muito louco isso de não precisar pagar na hora. De "deixa disso". Paga-se, mas depois, quando der, quando a internet permitir.

E o trabalho também depende das condições do tempo, das estradas, se alguém na família ficou doente, se a pessoa estava bem. Que bom escolher (quando possível) a hora que podemos trabalhar...

Sempre conto do meu endereço na conta da Internet.... bairro: retiro, perto da casa da mãe da Samantha.

É uma escala humana.

Fomos fingindo e acreditando que somos máquinas. Que se fizermos direitinho, nas condições certas, tá tudo controlado, tudo saudável sempre. E é uma mentira... nunca tá. Sempre dá uma merda alguma hora em algum lugar.

Sinto que aqui, admitimos mais facilmente que precisamos de ajuda ao mesmo tempo em que ajudamos a outros.

E tem o lado de complexificar a vida... cuidar de outras espécies, de plantas, de animais. Aumentar a diversidade de vida em um lugar. É lindo.

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Por pouco! Rs Morei em Monteiro Lobato por 1 ano. E sim, nossa, quantas coisas a serem desconstruídas... e quanta sabedoria que foi perdida quando nos estruturamos no formato de cidade. Teríamos prosa para horas de café e contemplação 😅

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Aug 23, 2023Liked by Rodrigovk

Eu também acho que estamos em um momento de transição, dos últimos gritos do capitalismo e da economia dos boomers e dessas coisas que a gente tem tanta certeza já que não funcionam. Só que infelizmente continua sendo uma merda viver nesse momento, sabe? A gente ainda tem a fatura do cartão de crédito e nenhuma previsão de conseguir comprar um imóvel e um monte de freela e contas e sonhos de que não deveria ser assim. Não sei se a gente vai viver o próximo capítulo ainda na força de trabalho (será que a gente vai conseguir aposentar?) mas é isso né. Torcer pra que a próxima geração tenha menos perrengue que a gente nesse aspecto

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Adorei o texto! E percebo que meus pensamentos caminham muito próximos aos seus, Rodrigo.

Sabe que reli o Cartas a um Jovem Poeta e ele cita, no início de 1900, que não tem dinheiro para comprar os próprios livros. Confesso que me deu vontade de chorar! rs

Mas sou sonhadora e otimista e na verdade não vejo outra alternativa que não seja acreditar que o cabelo vai finalmente crescer e ficar decente! haha

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melhor texto que li por aqui nos últimos tempos. tenho pensado muito sobre isso com um total de zero conclusões, mas questiono muito uma ideia de que o público teria que aprender a “valorizar” as obras que gostam e essa forma de “valorizar” seria pagando por elas. não acredito muito que pagar seja a única forma de reconhecer o valor de uma obra e também fico pensando sobre os públicos e sobre acesso. porém, entretanto, tá todo mundo tentando sobreviver/viver nesse barco furado capitalista e são tantas questões. enfim haha, incrível seu texto obrigadaaaa

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Sep 6, 2023Liked by Rodrigovk

Obrigada pelo texto Rodrigo! Essa é uma reflexão bem boa, gosto muito de pensar sobre essa parte de "monetizar todo hobbie"... Pq? Desde 2020 (pandemia) comecei a fazer várias coisas por mim, e não mais com esse sentido utilitário. Às vezes acho que o caminho é por aí... A gente arruma um trabalho fixo, que paga as contas e tal, e (tenta) usar o tempo livre pra si. Enfim, obrigada mais uma vez!

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